Quando comentamos sobre vinhos ouvimos expressões como
“taninos fortes” ou “taninos suaves”. Mas, o que significa dizer-se que o
vinhos são taninosos? Aliás, o que é o esse tão falado tanino? Como é que ele
age no vinho em relação ao seu sabor e longevidade? Quais são as uvas que
possuem mais taninos?
Todas essas questões ficam por conta do Blog Rozès para
esclarecer!
Afinal o que é o
tanino? É um instrumento de defesa da planta!
Quando um predador começa a ingerir partes de uma planta, as
células vegetais rompidas liberam os taninos, que possuem sabor amargo e
provocam grande adstringência, causando repugnância ao predador.
Nas uvas, os taninos encontram-se principalmente nas cascas,
sementes e engaços. Assim como os açúcares da uva, eles também passam por um
amadurecimento e, conforme se atinge esta maturidade, perdem agressividade,
tornando-se macios e sedosos.
Entre as uvas que vinificam, geralmente, quanto mais grossa
a casca, maior a quantidade de taninos a serem extraídos. No exterior oposto
estão variedades de cascas mais finas, que dão origem a vinhos de estrutura
mais leve e textura mais delicada.
A maturação dos taninos, além do acompanhamento dos níveis
de açúcares e acidez, é o fator chave para se decidir o momento ideal da
colheita da uva, atualmente.
Taninos no vinho
A vinificação talvez seja o momento mais importante para
analisar os taninos que encontramos nos vinhos. Quase todas as etapas de
vinificação influenciam na
no seu teor do vinho: maceração pré-fermentativa, medida do tanque de
vinificação, temperatura e tempo de fermentação, forma de “romper” o chapéu,
passagem por barricas de carvalho, maceração pós-fermentativa, micro-oxigenação
e filtração/clarificação são as principais fases que possuem relevância na
extração dos taninos.
É importante fazer a ressalva de que estamos a falar de
vinhos tintos. Os brancos apresentam quantidades muito inferiores de taninos,
uma vez que a fermentação se dá, via de regra, sem a presença das partes
sólidas das uvas, de onde se extraem a maior parte dos taninos.
Taninos Enológicos
São assim chamados os taninos industriais. Quando o enólogo
julga que seu mosto ou vinho está com o conjunto carente de taninos, pode-se
recorrer a estas preparações de tanino comerciais, que podem ser extraídos de inúmeras
espécies de plantas. Embora se trate de tema polémico, muitos produtores admitem seu uso, e
estamos falando de grandes nomes da Borgonha, Bordéus, Califórnia e Austrália (provavelmente de
muitas outras regiões também).
Até o momento, não existem pesquisas científicas que indiquem alguma
diferença organoléptica entre taninos industriais e os naturais da uva.
Trata-se também de uma questão dogmática: os intervencionistas defenderiam que,
se fosse para obter um vinho de melhor qualidade, seria válido; enquanto os
puristas afirmariam que estariam deturpando a essência do fermentado.
Envelhecimento
Cientificamente, ainda pouco se sabe sobre as reações
ligadas aos taninos durante seu envelhecimento em garrafa. Como exemplo,
pesquisadores da Universidade da Califórnia não constataram nenhuma redução nos
níveis de tanino num vinho de Napa Valley analisado na época do engarrafamento
e novamente após envelhecido três anos.
Sabemos que a atuação dos taninos como antioxidante (aliás,
o principal flavonol precursor dos taninos, a catequina, possui efeitos
análogos ao resveratrol: captar radicais livres), proporcionam uma maior
longevidade ao vinho. No entanto, o resultado de suas reações com as
antocianinas (pigmentos) e a produção de novos compostos aromáticos ainda não é
totalmente conhecida.
Degustação
Taninos, quando maduros, não possuem cheiro ou sabor.
Citamos maduros, pois, quando verdes, podem estar associados a aromas
excessivamente herbáceos e sabor amargo. A principal forma de avaliar taninos é
pela textura. Devido à propriedade de precipitar proteínas, a sensação de
adstringência e secura na boca nada mais é que os taninos precipitando a
saliva, que é rica em proteínas.
Quanto mais maduros forem os taninos, menores serão os
sintomas de adstringência e agressividade. Taninos maduros podem ser descritos
como dotados de textura aveludada, como se o vinho contivesse inúmeras
micropartículas sólidas, que não provocam nenhuma aspereza na boca, apenas
contribuem com volume e peso.
Pesquisadores da AWRI (Australian Wine Research Institute)
concluíram que os taninos da semente da uva são os mais agressivos e
adstringentes, assim como os polissacarídeos (açúcares) diminuem sua sensação
de adstringência.
Sob o aspeto gustativo, poderíamos dizer que os taninos
atuam como a fundação de um prédio, enquanto os aromas representariam sua
fachada. A beleza da fachada do prédio é imediata e evidente, assim como a
exuberância dos aromas. Por outro lado, sem uma fundação adequada, o prédio não
se sustenta, assim como os taninos dão coerência ao conjunto, acompanhando os
imponentes aromas de uma sólida e harmoniosa estrutura em boca.
Tanino ou não tanino?
O perfil tânico de um vinho depende de inúmeros fatores,
como variedade da uva, condições de safra e o trabalho do enólogo. Mais uma vez, o fator chave é a
coerência. Não se espera que um Beaujolais tenha uma estrutura tânica
portentosa, nem sequer que um Barolo não possua uma boa estrutura. Ainda assim,
nos deparamos sempre com algumas dúvidas, como provar um Borgonha, Bairrada,
Douro ou Dão, de uma safra considerada difícil e encontrarmos uma belíssima
estrutura tânica com um conjunto equilibrado. Será o caso de adição de taninos
enológicos? Ou um trabalho acima da média deste produtor? Terá esta determinada
comuna gozado de condições climáticas mais favoráveis que o resto da região?
Estas dúvidas provocam um mergulho cada vez mais profundo neste instigante
mundo do vinho.