Rozès

O Vinho branco é só para peixe. Será?

Os vinhos brancos não servem apenas para acompanhar comidas leves como peixe e marisco. Nem o tinto se esgota nas comidas mais pesadas como carne. Nem tudo é preto (ou tinto) no branco. Acontece que existem vinhos tintos mais leves que, por exemplo, fazem boa companhia a um linguado grelhado, tal como existem vinhos brancos mais pesados capazes de um casamento feliz com diferentes tipos de carne. Os últimos são chamados brancos de inverno e, por norma, estagiam em madeira e têm mais corpo. E se há brancos para carne, também há tintos para peixe.

Hoje, as combinações entre vinhos (de todas as castas) e comida são infinitas. É tudo uma questão de gosto e, como se sabe, os gostos não se discutem… neste caso, provam-se!

 

"In vino veritas" já diziam os romanos...

Toda a gente acha que o vinho tinto é mais saudável, é mais antigo e mais reconhecido. Mas a história nem sempre mostrou isso.

As videiras de uva branca terão surgido, no Egito, entre 2.000 e 1.000 a.C. sensivelmente dois mil anos depois das videiras de tinto.

Sendo as uvas brancas mais raras, a vinificação era confiada apenas aos melhores profissionais e o consumo desse vinho era reservado ao faraó e à elite da sociedade egípcia.

Mais tarde, entre os gregos, o vinho branco continuou com um status superior, até porque o sabor adocicado era uma regalia, um privilégio de poucos, pois as fontes de açúcar ainda eram raras e valiosas.

O mesmo aconteceu na sociedade romana, onde o vinho branco era um produto de luxo, caríssimo e acessível a poucos.

 

Apesar de o vinho não ser mais do que sumo de uva fermentado, a verdade é que existem cerca de 10 mil castas – variedades de vinha existentes – em todo o mundo! Em Portugal há quase 300 castas autóctones. É muita fruta, não é?

 

Não, o vinho branco não é produzido apenas com uvas brancas.

Por mais incrível que possa parecer, a verdade é que o vinho branco também pode ser produzido com recurso a uvas pretas, isto porque a parte da uva que dá efetivamente cor ao vinho é a sua pele (a polpa é incolor) e, se esta película não entrar em contacto com o mosto, o resultado será um vinho branco ou pelo menos com um tom muito claro.

 

O vinho branco tem de ser bebido gelado, certo?

Os vinhos têm diferentes temperaturas de serviço recomendadas.

O importante é definir o estilo do vinho antes de poder determinar sua temperatura. Por exemplo os chamados vinhos brancos frescos deverão ser bebidos a uma temperatura entre 7° e 9° C. Por outro lado, é entre 10° e 13° C que os vinhos brancos com corpo deverão ser saboreados.

Um vinho demasiado gelado pode fazer com que este não ‘abra’ o suficiente, não se expresse na plenitude das suas capacidades. Já um vinho demasiado quente pode evaporar e alterar a sua estrutura.

Diz-me a tua casta, dir-te-ei quem és.

Apesar de o vinho não ser mais do que sumo de uva fermentado, a verdade é que existem cerca de 10 mil castas – variedades de vinha existentes – em todo o mundo!

Em Portugal há quase 300 castas autóctones. É muita fruta, não é? Conheça algumas:

 

Arinto é uma casta de vinho espalhada pelo país, cuja acidez firme é o principal cartão-de-visita, garantindo-lhe a adjetivação de casta “melhorante” em muitas regiões portuguesas.

Fernão Pires, uma casta de produtividade elevada, bem como versátil, precoce e rica em compostos aromáticos.

Gouveio é uma casta tradicional na região do Douro e do Dão. Produz vinhos frescos e com equilíbrio entre acidez e açúcar.

Antão Vaz encontra-se no Alentejo e está bem adaptada ao clima quente e soalheiro da grande planície, contendo aromas exuberantes.

Alvarinho é uma casta originária do norte, sobretudo Monção e Melgaço. É vigorosa, mas pouco produtiva. Origina vinhos com elevado potencial alcoólico, boa estrutura, elegantes e perfumados.

Rabigato é uma casta de bom teor alcoólico espalhada por todo o país. Dá vinhos com aromas discretos, ligeiramente frutados com uma boa longevidade e acidez.

É mais fácil fazer um vinho branco do que um tinto. Verdade ou mito?

Talvez seja mais mito. O vinho branco é mais difícil de fazer. O problema prende-se, fundamentalmente, com as oxidações, que é preciso evitar a todo o custo. Por outro lado a tecnologia necessária acaba por tornar os brancos mais caros do que os tintos.

 

O vinho branco envelhece bem?

Embora, regra geral, um vinho branco deva ser consumido dentro do prazo de um ano, há sempre exceções à regra e, em Portugal, alguns bons exemplos chegam das regiões de Monção e Melgaço ou do Dão. Internacionalmente falando, o célebre vinho branco alemão Riesling é a prova viva de que um vinho branco pode envelhecer lindamente, até aos 50 anos de idade para sermos mais precisos!

 

Onde antes era raro um vinho branco português conseguir uma medalha de ouro ou prata, hoje começam a aparecer com regularidade.

 

De "patinho feio" a ilustre conhecido.

O mundo dos vinhos brancos portugueses está em mudança. Até há 10 anos, o vinho branco passou por uma espécie de travessia do deserto. Primeiro porque se convencionou que só o vinho tinto fazia bem à saúde. E depois porque a qualidade média era sofrível e irregular. E sem bons vinhos a bons preços os consumidores tinham tendência para se afastarem. Com poucos consumidores, os produtores de vinho não investiam nas videiras, nas uvas brancas nem no seu tratamento. E em quase todas as regiões, as plantações e reestruturações de vinha privilegiavam cada vez mais as variedades de uvas tintas em detrimento das brancas.

Este círculo vicioso acabou por se desfazer quando um número cada vez maior de produtores, incluindo adegas cooperativas, começou a fazer bons vinhos brancos. Os técnicos do vinho e da vinha começaram a investir mais tempo no campo e na adega, conseguindo melhores uvas. Ao mesmo tempo, os equipamentos e conhecimentos técnicos necessários para se fazerem bons brancos evoluíram: os enólogos começaram a dominar cada vez melhor os meandros da vinificação de brancos, considerados mais complexos na adega do que os tintos.

Os resultados não se fizeram tardar, ecoados pelas avaliações da imprensa da especialidade e pelos resultados dos concursos. Onde antes era raro um vinho branco português conseguir uma medalha de ouro ou prata, hoje começam a aparecer com regularidade. É um facto.

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